Como o PHP funciona na verdade

por Níckolas Silva em 19/11/2019

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TL;DR

PHP é uma linguagem de script que interpreta arquivos e os transforma em opcodes, e executa estes opcodes para obter resultados. Opcache e preloading ajudam PHP a remover a sobrecarga neste processo.

Em servidores web, PHP normalmente é utilizado com PHP-FPM, que traz consigo uma capacidade incrível de escalabilidade.

Então... o que é PHP?

Eu fico muito feliz em ver como o desenvolvimento moderno com PHP requer cada vez menos conhecimento para construir produtos incríveis. Isso é muito massa!

Numa pesquisa rapidinha a gente encontra a informação de que PHP tornou-se público cerca de 28 anos atrás.

A forma como PHP começou é extremamente importante pra entender como e por quê ele se tornou tão popular. Também torna muito mais fácil entender a maior parte de suas características e decisões arquiteturais.

PHP nasceu como uma template engine. Era uma série de programas CGI que permitia o desenvolvimento de páginas web como valores dinâmicos.

Sim, a ideia era justamente misturar HTML e PHP. Só que em 1995 isso era revolucionário!

Como linguagem de script, PHP executa seus códigos sequencialmente do início ao fim do arquivo e toda execução é 100% nova. Sem compartilhamento de memória ou contexto.

Quando falamos de desenvolvimento web, isso pode mudar um pouco. Dado que o PHP pode rodar como CGI ou módulo no servidor http. Vamos dar uma olhada.

Como o PHP funciona com servidores HTTP?

Em geral, servidores HTTP têm uma responsabilidade bem clara: prover conteúdo de hipermídia usando o Protocolo HTTP. Isto significa que servidores http recebem uma request, buscam um conteúdo do tipo string de algum lugar, e respondem com esta string baseando-se no Protocolo HTTP.

PHP veio para tornar este conteúdo de hipermídia dinâmico, permitindo que desenvolvedores possam prover mais que arquivos .html simples e estáticos.

Enquanto linguagem de script, num contexto de scripting, o PHP isola toda execução. Portanto não compartilha memória ou outros recursos entre execuções.

Já enquanto no contexto web, temos duas formas diferentes de executar código PHP e cada uma possui seus prós e contras.

É possível conectar o PHP a servidores http utilizando uma conexão do tipo CGI ou como um módulo. A maior diferença entre os dois modos é que módulos http compartilham recursos com o servidor HTTP enquanto no modelo CGI, php faz uma execução nova a cada request.

Utilizar o PHP como módulo costumava ser bem popular, por sua comunicação com o servidor http ter menores barreiras. Ao passo que um script CGI dependeria, por exemplo, de comunicação em rede entre o servidor http e a execução do código.

Isso costumava ser o gargalo em set ups PHP. Hoje em dia, é justamente onde o PHP brilha!

Com o PHP-FPM um servidor como nginx ou Apache podem facilmente executar código php como se fosse um script CLI. Onde cada request é 100% isolada das outras.

Isto também significa que o servidor HTTP pode escalar independentemente do executor de códigos PHP. Com as nossas tecnologias atuais, isso é incrível para nos permitir escalar verticalmente.

Utilizar o PHP com CGI lhe permite atualizar sua aplicação rapidamente sem precisar reiniciar o servidor HTTP a cada deployment. Com a moda de utilizar load balancers isso não é tão crítico, mas vale mencionar.

Outro grande benefício de utilizar PHP-FPM é que sempre que um script php quebrar, apenas aquela request está comprometida. O restante da aplicação pode continuar executando normalmente, já que os recursos não são compartilhados.

Então se a gente ignorar a utilização do PHP como módulo, a forma como ele funciona na web é basicamente: HTTP Server ⇨ PHP-FPM (Server) ⇨ PHP.

E é por isso que nós dizemos normalmente que o PHP é extremamente escalável por natureza.

Mas o PHP ainda é uma linguagem de script. E como no contexto CGI ele possui uma execução isolada a cada request, isso também significa que a sua característica mais escalável também é um dos seus mais relevantes gargalos de performance.

Como o scripting com PHP funciona?

A linguagem PHP é escrita em C e a forma como funciona é na real bem massa.

O interpretador php lê arquivos contendo código php, analiza sua sintaxe, transforma tudo que entende como código php em opcodes e mais tarde executa esta lista de opcodes.

Em termos simplificados, o php: interpreta, compila e executa.

Toda as vezes novamente (a gente volta nesse ponto já já).

Então a cada vez que você tenta executar um script php, você encontrará diferentes coisas em diferentes momentos:

Erros sintáticos e verificações de linguagem acontecem durante a fase de interpretação e compilação. Erros lógicos (como exceções) ocorrem apenas durante a fase de execução.

A forma como o PHP faz isso é através de uma Árvore Sintática Abstrata (Abstract Syntatic Tree - AST) para entender o que as coisas dentro do arquivo php significam.

Esta árvore sintática mapeia estruturas de linguagem em instruções de compilação, que quando compiladas se transformam em opcodes da Zend VM. Tais opcodes então podem ser interpretados pela Zend VM.

Então se você parar pra pensar, a parte mais relevante na execução do código PHP ocorre quando a Zend VM executa opcodes. Isto é o que realmente produz o resultado que esperamos.

Ao fim do dia, ter uma execução isolada a cada request não parece tão inteligente se precisarmos compilar a sintaxe php em opcode a cada nova request.

Por isso o OPcache existe. Não existem soluções sem problemas.

Com OPcache o PHP pode tomar vantagem de um espaço de memória compartilhado: ler/gravar scripts já interpretados e otimizar execuções futuras.

Na primeira vez que uma request toca index.php, por exemplo, o php interpreta, compila e executa. Da segunda vez que a request toca index.php, o php simplesmente busca o compilado do OPcache e o executa.

Isto está para mudar, porém. Desde o PHP 7.4 um preloader de opcache foi adicionado ao PHP. Esta funcionalidade permite uma série de arquivos php serem pré-carregados ao subir o servidor. Desta forma, da primeira vez que uma request tocar index.php, o php irá buscar o compilado diretamente no opcache. Sem precisar interpretar o arquivo durante a request.

E pra quê tu tá me dizendo tudo isso?

Eu sinto que engenheiros(as) PHP (assim como python) normalmente possuem grande conhecimento sobre como os componentes se conectam no back-end, dado que nossas linguagens normalmente não provém muita mágica ou software caixa preta de terceiros.

Eu também sinto que isto vem mudando com o tempo, dado que o software Open Source se mostrou mais que somente um Hype, mas um ótimo modelo econômico. Mais linguagens precisam que seus(uas) engenheiros(as) entendam como as coisas se encaixam e estão se tornando cada vez mais vendor agnostic.

Mas ainda não estamos lá, e dominar o ecossistema PHP é necessário para investir esforços em performance e segurança corretamente. Saber quando e onde as coisas acontecem irá lhe dar suporte em otimizar como elas devem acontecer.

Eu espero que este texto tenha lhe ajudado a entender melhor como a engine PHP funciona por baixo dos panos, o ferramentário que utiliza e palavras chave importantes que você provavelmente irá encarar em algum momento.

Se você tiver alguma pergunta que eu não tenha respondido aqui ou crê que cometi algum erro neste texto, sinta-se livre para entrar em contato e, se eu entender que se encaixa aqui, vou manter este post atualizado para que possamos aprender juntos.

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